8 de abr. de 2010

Memória Traumática e Vitimologia, Dra. Muriel Salmona, trad. Mirian Giannella

VIOLÊNCIA E VITIMOLOGIA

Lutar contra a violência passa, antes de tudo, pela proteção às vítimas!

As violências são uma infração grave aos direitos humanos fundamentais das pessoas e à sua integridade física e psíquica. Como se produzem essencialmente em meios que se supõe serem mais protetores como a família, o casal, as instituições de educação e de cuidados, o mundo do trabalho, são ocultas e maquiadas como amor, desejo, educação, segurança, rentabilidade. Este ocultamento tem por função proteger o mito de uma sociedade patriarcal ideal onde os mais fortes protegeriam os mais fracos, racionalizando assim as desigualdades e os privilégios de uma posição dominadora, que torna as violências possíveis. As vítimas que as sofrem ficam isoladas, condenadas ao silêncio na impotência são confrontadas à violências ainda mais traumatizantes tanto mais quanto são inconcebíveis. Estas violências que traumatizam são a causa de feridas psíquicas e de perturbações psicotraumáticas freqüentes e crônicas que terão um impacto catastrófico sobre a sua vida se não forem tratadas. Ora, estas vítimas traumatizadas são abandonadas, não beneficiam nem de proteção, nem de cuidados específicos, lhes resta sobreviver num grande sofrimento e numa insegurança total e de reparar-se como podem. E estas condutas de sobrevivência, fora da norma, para a maior parte das vítimas serão estigmatizadas injustamente como deficiências constitucionais e serão percebidas como uma inferioridade que justificaria a destituição e novas violências, enquanto são reações normais às situações violentas anormais que sofreram. Em contrapartida, um baixo número de outras vítimas reparar-se-á aderindo à lei do mais forte e reproduzindo as violências, alimentando a produção de novas violências num processo sem fim.
Estas conseqüências psicotraumáticas explicam-se por mecanismos neurobiológicos conhecidos há apenas poucos anos e é, perfeitamente, possível preveni-los ou trata-los eficazmente.
A memória traumática das violências é o sintoma central das perturbações psicossomáticas. É produzida quando mecanismos psíquicos e neurobiológicos de salvaguarda excepcionais se instalam para escapar ao risco vital que gera o estresse extremo desencadeado por violências traumatizantes. Com efeito, estas violências incompreensíveis e inconcebíveis provocam dissociação e sideração psíquicos, sem poder controlar a atividade da estrutura subcortical responsável pela resposta emocional, a amígdala cerebral, e nem a secreção hormonal de cortisol e de adrenalina que desencadeia. Ora, a quantidade crescente segregada destes hormônios constitui um risco vital cardiovascular e neurológico para o organismo. Face a este risco, o cérebro segrega, por sua vez, em urgência, drogas “duras” (morphine-like e kétamine-like) que fazem corte na emoção, desconectando a amígdala de outras estruturas, como o hipotálamo, produzindo uma dissociação. A resposta emocional apaga-se brutalmente e as vítimas dissociadas descrevem então um sentimento de irrealidade, ou mesmo de indiferença e de insensibilidade, como se tivessem se tornado simples espectadores da situação devido à anestesia emocional e física ligada à disjunção. A consequência imediata é que a memória emocional do acontecimento não poderá ser codificada pelo hipocampo nem se tornar uma lembrança autobiográfica “que se possa narrar”. Permanecerá presa na amígdala, condenada a permanecer inacessível à consciência, mas susceptível de reacender-se a partir de qualquer estimulação que recorde as violências sofridas, e fazendo, então, viver à vítima os mesmos sofrimentos físicos e psíquicos. A memória traumática é esta memória enquistada, semelhante à uma máquina do tempo que ameaça engrenar à qualquer momento de maneira incontrolável, mergulhando de novo a vítima em meio às violências sofridas e reproduzindo a totalidade ou parte da sua vivência sensorial e emocional. E esta memória traumática, que ameaça incessantemente explodir, transforma a vida das vítimas num terreno minado, gerando um clima de perigo e de insegurança permanentes.
Inicialmente as vítimas tentam impedir a explosão evitando todos os estímulos suscetíveis de desencadea-la. Tornam-se hipervigilantes e instalam condutas de controle e evitamento de todo o seu ambiente, tudo o que pode recordar, mesmo inconscientemente, as violências como estresse, emoções, dores, situações imprevistas ou desconhecidas… mas também, um contexto, um odor, uma voz. O que provoca fobias, retração afetiva, perturbações do sono, cansaço crônico, perturbações da atenção e da concentração muito prejudiciais para levar bem uma vida pessoal, social e profissional.
Mas, as condutas de controle e de evitamento são raramente suficientes, particularmente, durante os períodos de grandes mudanças (adolescência, encontro apaixonado, nascimento de uma criança, vida profissional, desemprego, etc.) e a memória traumática explode então, frequentemente, traumatizando de novo as vítimas, provocando risco vital, disjunção, anestesia emocional e nova memória traumática. Mas, rapidamente a disjunção espontânea não pode mais se fazer porque um fenômeno de tolerância às drogas duras segregadas pelo cérebro instala-se, à quantidade igual das drogas não fazem mais efeito, as vítimas permanecem, então, bloqueadas numa aflição e numa sensação de morte iminente intolerável. É então necessário cessar este estado e se anestesiar por fim, obter custe o que custar uma disjunção fazendo aumentar a quantidade de drogas que dissociam.
O que se pode obter de duas maneiras: acrescentando-lhes drogas exógenas - álcool ou substâncias psicoativas - que são elas, também, dissociativas, ou aumentando sua secreção endógena por agravamento do estresse. Para agravar o estresse, as vítimas põem-se em perigo ou exercem violências geralmente contra si mesmas, mas muitas delas preferirão exercer violências contra o outro, gerando uma memória traumática em novas vítimas, o que é um elemento muito importante sobre o qual retornaremos. Estas condutas de risco, condutas violentas e condutas aditivas cujas vítimas descobrem cedo ou tarde a eficácia sem compreender os mecanismos, nomeei-as condutas dissociantes. Estas condutas provocam a disjunção e a anestesia emocional procuradas, mas recarregam também a memória traumática, tornando-a sempre mais explosiva e tornando as condutas dissociantes sempre mais necessárias, criando uma verdadeira adição às condutas de risco e/ou violência. [Tudo isto tenta justificar a repetição da conduta violenta para a dissociação e anestesia emocional quando o fato é que o trauma se repete pois é o registro das percepções e reações gravado constituindo um modo de funcionamento] (N. da T.)
Estes mecanismos psicotraumáticos permitem compreender as condutas paradoxais das vítimas e o ciclo infernal das violências. São ignoradas infelizmente e os médicos que não são formados em psicotraumatologia não vão ligar os sintomas e as perturbações das condutas que apresentam as vítimas às violências que sofreram e, por conseguinte, não vão trata-las especificamente. Vão utilizar tratamentos sintomáticos ou tratamentos que tem efeito dissociante, mas sem o saber. Estes tratamentos (como a internação, a contenção, camisolas químicas, isolamento, choques elétricos, ou mesmo a lobotomia que ainda é utilizada em certos países….) são “eficazes” para fazer desaparecer os sintomas mais embaraçosos, por anestesiar as dores e as aflições mais graves, mas agravam a memória traumática dos doentes. A violência tem a triste capacidade de tratar de maneira transitória, mas muito eficaz as consequências psicotraumáticas, agravando-as. É a sua própria causa e o seu próprio antídoto. Mas a que preço!
Se a violência é paralisante e dissociante para a vítima, para o autor é um instrumento de dominação e uma droga que anestesia. A violência é um formidável instrumento para submeter e instrumentalizar as vítimas no objetivo de obter uma anestesia emocional do agressor. Torna-se assim uma fábrica de novas vítimas e novas violências.
As racionalizações habituais para justificar a violência são apenas astúcias: A violência não é uma fatalidade, não procede de um impulso agressivo original no homem (como diz Freud), nem de uma crueldade inata (como pensa Nietzsche). O ser humano é naturalmente empático como o provam todos os estudos feitos com bebês. Os que utilizam a violência preconizam o despeito e o ódio às vítimas consideradas como inferiores e sem valor, mas são violentos por terem eles mesmos sido vítimas no passado. Têm recurso à violência apenas porque é útil, possível e que é uma droga para eles.
A vítima não é responsável pela violência exercida contra ela, nada na sua pessoa nem nos seus atos a justifica, a vítima é sempre inocente da violência premeditada que se abate sobre ela. De fato, a vítima é permutável e escolhida, por constrangimento ou manipulação, para representar um papel num roteiro que não lhe concerne, montado pelo agressor.
A violência não é útil para a vítima, o “é para o teu bem” denunciado por Alice Miller, o “é por amor a você”, o “é para melhor protege-lo, educa-lo, trata-lo…” são mistificações. A violência é útil apenas ao seu autor, para alivia-lo e apenas a ele, e para paralisar e submeter as vítimas. O objetivo deste último é impor à pessoa que escolheu para ser seu “escravo-curativo e medicamento” para tratar a sua memória traumática. Instrumentaliza a vítima e aliena-a privando-a de seus direitos a fim de transforma-la em escravo submisso e que deverá desenvolver condutas de controle e de evitamento em seu lugar, para evitar a explosão da sua memória traumática, e será quem, se a explosão acontecer, deverá servir de fusível, de modo que ele possa dissociar por procuração e se anestesiar.
A violência é um privilégio, é o privilégio de uma sociedade desigual que distribui papéis de dominador e dominado e que atribui, a cada um, um valor em função do lugar que ocupa no sistema hierárquico imposto. Este sistema injusto permite a destituição de uma parte da população em benefício de privilegiados que têm o direito de utilizar a violência injustamente para submete-la e instrumentaliza-la.

A função principal da violência é, por conseguinte, enganosa, permite aos agressores apagar os vestígios da vítima que foram e escapar à uma memória traumática incomoda. Permite-lhes colocar-se ao lado dos dominadores privilegiados e assegurar-se uma total impunidade dissociando as vítimas, que, anestesiadas, calar-se-ão, o que terá por efeito apagar os vestígios das violências que semeiam ao longo de seu caminho. A vítima que odeiam são eles mesmos, vão faze-la desaparecer atacando-se à outra vítima à quem farão representar à força a sua história para melhor nega-la, desencadeando a sua própria anestesia emocional. Uma vez que não sentem mais nada, é que esta história não é a deles.
Neste sistema, a vítima tem uma posição paradoxal. É, primeiro, uma vítima substituível, indispensável para fazer funcionar a máquina de apagar o passado traumático dos agressores. Mas como ela é suscetível de recordar o passado traumático de todos os que estão em posição dominadora despertando sua memória traumática, ela pode pôr em risco toda a construção ilusionista da sociedade e é necessário apaga-la a qualquer custo. A vítima é, portanto, ao mesmo tempo, indispensável e indesejável. As vítimas devem ser erradicadas, mas será necessário criar incessantemente novas vítimas. Uma vez que foram vítimas, serão levadas a se esconder ou desaparecer se auto-destruindo, a menos que se tornem, por sua vez, agressores, quando a sociedade lhes dá a possibilidade e quando se autorizam, ou seja quando um lugar de dominador lhes é reservado. É por isso que não têm o direito de afirmar o seu estatuto de vítima, ao fazer serão imediatamente suspeitas de não dizer a verdade ou procurar vantagens.
Quando os agressores tiverem necessidade de vítimas para se anestesiar, vão selecionar entre as vítimas escondidas ou pessoas ainda não vítimas, mas vulneráveis (como as crianças) para fazer-lhes participar do seu jogo, cabe às vítimas se submeter e depois, de novo, se esconder ou desaparecer sem deixar vestígios. É, então, essencial para os agressores em busca de vítimas potenciais cultivar situações de discriminação ou cria-las com todas as peças, decidir que certas categorias de humanos são “inferiores” e são, por conseguinte, utilizáveis como vítimas “fusíveis”: crianças, mulheres, deficientes, velhos, judeus, árabes, negros, etc.… à revelia de toda coerência e justiça, de toda a decência e sem ter que prestar contas, visto que se trata - uma vez etiquetadas inferiores - de pessoas permutáveis que “não valem nada ou não muito”, se não for por sua virtude “curativa” mais ou menos importante.
Áreas inteiras de funcionamentos humanos fundamentais são assim instrumentalizadas para servir de “instrumentos de violências”, como a educação das crianças, o amor parental, a relação conjugal, a sexualidade, a religião, o trabalho, a política, o cuidado. Algumas destas áreas são quase inteiramente pervertidas pelas condutas violentas que dissociam, a tal ponto e há tanto tempo que todos acabam por considerar que esta violência é “natural”, e inerente a estes funcionamentos humanos, com uma tolerância inconcebível para violências que embora ultrajem os direitos humanos, podem se impor como incontornáveis; é o caso das violências educativas intrafamiliares, e as violências sexuais, particularmente a prostituição e a pornografia. [Acrescento o incesto e a pedofilia.] (N. da T.)

A loucura imposta
As violências impregnam de tal maneira e há tanto tempo as relações humanas que alteraram as normas e as representações que se pode ter. As violências saturam e desnaturam a relação amorosa, a parentalidade, a sexualidade, o trabalho, os cuidados, etc. Na nossa sociedade, os sintomas psicotraumáticos e as perturbações das condutas nunca são reconhecidas como consequências normais das violências, mas percebidas de maneira mistificadora e particularmente injusta como provindas das vítimas elas mesmas, ligadas à sua personalidade, à supostos defeitos e incapacidades, ao seu sexo, à sua idade, ou mesmo perturbações mentais abusivamente diagnosticadas como psicóticas.
As violências e as suas consequências psicotraumáticas são a causa de muitos estereótipos supostos caracterizar as vítimas vulneráveis, como as mulheres e as crianças. Os seus sintomas, ao invés de serem identificados como reativos, são considerados injustamente como naturais e constitutivos de seu caráter, de suas condutas e de sua sexualidade: as mulheres seriam mais passivas, mais emotivas, mais sensíveis, mais frágeis e mais depressivas que os homens, com uma sexualidade bem menos pulsional que eles, os adolescentes seriam mais propensos às condutas de risco, mais suicidas, etc. certamente, existe numerosos estereótipos “em espelho” sobre os homens que seriam “naturalmente” predadores, dominadores e pouco emotivos.
Estes estereótipos, parasitados pela violência onipresente, alteram profundamente as relações humanas e transformam o amor numa relação de possessão e de influência, a educação em treinamento e dominação, a sexualidade numa necessidade de instrumentalizar e consumir.
E num mundo onde de maneira ilegítima e absurda, a metade da população, por ter nascido de sexo feminino, sofre uma dominação de fato, os discursos desiguais poderão continuar a mistificar uma grande parte dos indivíduos e impor mentiras ideológicas que são facilitadoras de violências, “permissão para matar” oferecida à pessoas de ética e coerência intelectual duvidosas para “tratar” a sua memória traumática às expensas do outro.

A memória traumática quando não tratada é, então, o denominador comum de todas as violências, e é a consequência assim como a causa.
Resulta claramente do que precede que para interromper a produção sem fim de violência é necessário evitar que vítimas sejam traumatizadas e que desenvolvam uma memória traumática. Isto passa por uma proteção sem falha de qualquer ser humano de modo que não sofra violências, e mais particularmente, crianças e mulheres que são as vítimas mais frequentes. É necessário, então, proteger as vítimas potenciais que vivem os universos infelizmente conhecidos como mais perigosos, como o casal, a família, as instituições, o trabalho, e é necessário promover uma igualdade efetiva de direitos, a informação sobre as consequências da violência e a educação da não-violência. É necessário também proteger as vítimas traumatizadas e não as abandonar ao seu destino. Nenhuma vítima deve ser deixada sem atendimento e cuidado.

Tratamento do Agressor
Tornar a justiça acessível a toda vítima é imperativo absoluto e os autores de violências devem prestar contas. Mas isto não é suficiente, é necessário que os autores de violências sejam tratados a partir das primeiras violências, no âmbito de uma educação da não-violência com cuidados especializados para tratar a sua memória traumática e a sua adição à violência.
O tratamento da memória traumática consiste em fazer compreender os mecanismos psicotraumáticos, com o objetivo de compreender e se desculpabilisar e de evitar condutas dissociantes e fazer de modo que os doentes não se deixem mais petrificar pela falta de sentido absurdo das violências. O tratamento consiste em identificar, com o doente, a sua memória traumática que toma a forma de verdadeiras minas as quais se trata de localizar, e em seguida desativar e desminar pacientemente, restabelecendo conexões neurológicas, permitindo-lhe fazer relações e reintroduzindo representações mentais para cada manifestação da memória traumática. Trata-se “de reparar” a cisão psíquica inicial, a sideração psíquica ligada à irrepresentabilidade das violências. No decorrer da psicoterapia, o vivido, pouco a pouco, torna-se melhor representável e integrável, mais compreensível, o terapeuta ajuda a colocar palavras em cada situação, comportamento, emoção, e a analisar com precisão o contexto, as reações da vítima, o comportamento do agressor. Esta análise acentuada permite ao cérebro associativo e ao hipocampo retomar o controle das reações da amídala cerebral e codificar a memória traumática emocional para transforma-la em memória autobiográfica consciente e controlável.
O objetivo é nunca renunciar a compreende-lo, nem a dar sentido, a qualquer sintoma, pensamento, reação, sensação incongruente, pesadelo, comportamento que não é reconhecido como coerente com o que é e deve fundamentalmente ser dissecado para o associar com a sua origem, para o iluminar por relações que permitam o relacionar às violências sofridas.
Sem vítima, não há agressor
Este trabalho de compreensão permite ao doente evitar ser traumatizado novamente. À medida que as violências tomam sentido em relação ao passado traumatizante do agressor, que as vítimas se dão conta que as violências não as concernem em absoluto, que se jogam sobre outra cena, a da memória traumática do agressor e seu passado, o roteiro colocado em cena pelo agressor não funciona mais, tornando-se possível à vítima de não participar mais. A partir do momento em que a vítima compreende o que se passa, pode identificar a cena e o papel no qual o agressor tenta captura-la e liberar-se, não são mais a presa petrificada da qual o agressor precisa para a sua fantasia perversa. “O jogo” não funciona mais, a vítima pode se colocar “fora de jogo” e deixar o agressor face a uma cena na qual não pode mais jogar o papel de carrasco, por falta de vítima petrificada. A sua história que impunha à vítima volta-lhe em cheio na cara, em espelho. Então é trazido ao seu papel original, um papel de vítima que não quer, sobretudo, representar. “O jogo” não tem mais sentido, nem interesse e não é mais dissociante, o agressor deverá dissociar-se de outra forma ou acalmar-se. Na sua frente, a vítima tornou-se como Perseu face à Medusa, a sua compreensão é o escudo, o espelho oferecido por Minerva (deusa da sabedoria e da razão), evita-lhe que seja petrificada pelo olhar de Medusa.
Resultados
Temos tudo a ganhar com a aposta de proteger todas as vítimas a partir das primeiras violências: ganha-se fazendo cessar imediatamente as violências e colocando em segurança as vítimas, ganha-se fazendo respeitar os direitos das vítimas e permitindo-lhes obter justiça e reparar os danos causados pelas violências sofridas, ganha-se garantindo-lhes a sua não repetição, ganha-se de pôr um termo à impunidade dos autores mas propondo-lhes cuidados precoces para sair da sua adição à violência, ganha-se ao evitar a instalação de perturbações psicotraumáticas crônicas nas vítimas graças a cuidados especializados precoces. Evitando colocar no lugar condutas dissociantes, particularmente as violências exercidas contra o outro, pode-se opor-se à contaminação progressiva dos indivíduos pela violência, e ganha-se, por último, ao tornar a sociedade menos desigual.
Para lutar contra as violências é necessário, então, uma vontade política forte para proteger as vítimas, para fazer respeitar os direitos de toda pessoa de viver em segurança, para tornar a justiça eficaz, para formar em psicotraumatologia os profissionais que atendem as vítimas, e mais particularmente os médicos e outros profissionais da saúde, para criar centros de cuidados especializados, para informar o grande público sobre as consequências das violências e os mecanismos psicotraumatológicos, e educar ao respeito dos direitos do humano e a não-violência.
Bourg la Reine, 26 de dezembro de 2009

Dra. Muriel Salmona
Psiquiatra-psicotraumatóloga, responsável pela Antenne 92 do Instituto de vitimologia, Presidente da Association Mémoire Traumatique et Victimologie : www.memoiretraumatique.org

* Trabalhos da Dra. Muriel Salmona : La mémoire traumatique in L’aide-mémoire en Psychtraumatologie, Paris, Dunod, 2008 e obra no prelo: Violences impensées et impensables ou la mémoire traumatique à l’œuvre.

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